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domingo, 7 de março de 2010

William Blake

 Sempre buscando por algo mais, me deparei com este pensador, pintor e poeta inglês, William Blake (Londres, 28/11/1757 - Londres, 12/08/1827). Blake tinha visões, era considerado louco por seus contemporâneos e estava firmemente convencido de que o mundo que vemos não é o mundo real. Sua crença espiritual iria influenciar o misticismo de suas obras e acompanhá-lo por toda vida. Suas palavras e ilustrações parecem ter vida própria e juntas, formam uma obra única!!

 Este post é em homenagem a Blake e sua obra!!

 "Augúrios de Inocência"

Ver um mundo num grão de areia,
E um céu numa flor de campo,
captar o Infinito na palma da mão
E a eternidade numa hora

Um tordo rubro engaiolado
deixa o céu inteiro irado
Um cão com dono e esfaimado
prediz a ruína do estado
Ao grito da lebre caçada
da mente, uma fibra é arrancada
Ferida na asa a cotovia,
um querubim, seu canto silencia...
...Toda noite e toda manhã linda,
uns nascem para o doce gozo ainda
outros nascem numa noite infinda
Passamos na mentira a acreditar
quando não vemos através do olhar
que uma noite nos traz e outra deduz,
quando a alma dorme mergulhada em luz
Deus aparece e Deus é luz amada
para auqeles que na noite têm morada
E na forma humana se anuncia,
para aqueles que vivem nas regiões do dia.


"O Jardim Do Amor"

Eu fui ao Jardim do Amor,
Eu vi algo jamais avistado:
No centro havia uma Capela,
Onde eu brincava no relvado.

Tinha os portões fechados, e "Proibido"
Era a legenda sobre a porta escrita.
Voltei-me então para o Jardim do Amor,
Que outrora dera tanta flor bonita,

Eu vi que estava cheio de sepulcros,
E muitas lápides em vez de flores;
E em negras vestes hediondas os Padres faziam rondas,
E atavam com nó espinhoso meus desejos e meu gozo.

Dividido por incessante angústia,
Pois a Piedade a alma dilacera,
Padeceu dores, por séculos infindos.
Por rochedos escorriam cascatas de vida.
Em Nervos a linfa contraiu o vácuo
E os nervos erravam no seio da noite,
E deixaram um globo, esférico de sangue
Suspenso, a estremecer n o vácuo.

Assim foi o Eterno Profeta dividido
Perante a mortal imagem de Urizen;
E em trevas e mutáveis nuvens,
por baixo, em noite de invernia,
Estendia-se imenso o abismo de Los;

E nos intervalos de treva, surgiam
Aos olhos dos Eternos as visões distantes,
Remotas, do sombrio afastamento
Lentes que desvendam novos Mundos
No Abismo infinito e sideral,
Os olhos flexíveis dos Imortais
Miravam as visões sombrias de Los
E o globo de vivo sangue a estremecer.


"A Resposta Da Terra"

A terra levantou sua cabeça
Desde a escuridão pavorosa e triste.
Sua luz voou,
Pétreo terror!
E cobriu seus cabelos com cinzento desespero.
"Presa junto a úmida costa,
Ciúmes estrelados guardam meu covil:
Fria e velha,
Chorando,
Escuto ao Pai dos homens antigos.
Egoísta Pai de homens!
Cruel, ciumento, medo egoísta!
Pode o gozo,
Acorrentado na noite,
Dar à luz as virgens da juventude e manhã?
A primavera esconde sua alegria
Quando os casulos e as flores crescem?
O semeador
Semeia pela noite
Ou o lavrador lavra na escuridão?
Rompe esta pesada corrente
Que rodeia de gelo meus ossos
Egoísta! Inútil!
Eterna praga!
Que ao livre Amor ataste com ataduras."



"O Anjo"

Sonhei um Sonho! Que quer dizer?
Eu era uma Rainha virgem,
Guardada por um Anjo doce:
Estúpido infortúnio nunca foi enganado!
E chorei noite e dia,
E ele enxugou minhas lágrimas,
E chorei noite e dia,
E escondi-lhe o gozo de meu coração.
Então ele abriu suas asas e voou;
Então a manhã se envolveu de um vermelho rosado;
Sequei minhas lágrimas, e armei meus temores
Com dez mil escudos e lanças.
logo meu Anjo voltou:
Eu estava armada, voltou em vão;
Porque o tempo da juventude havia voado,
E cabelos cinzas estavam sobre minha cabeça.


"O Tigre"

Tigre, tigre que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão, que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria?

Em que longínquo abismo, em que remotos céus
Ardeu o fogo de teus olhos?
Sobre que asas se atreveu a ascender?
Que mão teve a ousadia de capturá-lo?
Que espada, que astúcia foi capaz de urdir
As fibras do teu coração?

E quando teu coração começou a bater,
Que mão, que espantosos pés
Puderam arrancar-te da profunda caverna,
Para trazer-te aqui?
Que martelo te forjou? Que cadeia?
Que bigorna te bateu? Que poderosa mordaça
Pôde conter teus pavorosos terrores?

Quando os astros lançaram os seus dardos,
E regaram de lágrimas os céus,
Sorriu Ele ao ver sua criação?
Quem deu vida ao cordeiro também te criou?

Tigre, tigre, que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão, que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria?


"Alegria De Criança"

"Não tenho nome:
Só tenho dois dias."
Como te chamarei?
"Sou feliz,
Alegria é meu nome."
Doce alegria te ocorra!
Linda alegria!
Linda alegria de só dois dias,
Te chamo doce alegria:
Tu sorris,
Eu canto entretanto
Doce alegria te ocorra!


" A Humana Súmula"

A Piedade deixaria de existir
Se não fizéssemos nós os Pobres de pedir;
E a compaixão também acabaria
Se todos, como nós, feliz chegasse o dia.

E a paz se alcança com mútuo terror,
Até crescer o egoísmo do amor:
A crueldade tece então a sua rede,
E lança seu isco, cuidadosa, adrede.

Senta-se depois com temores sagrados,
E de lágrimas os chãos ficam regados;
A raiz da Humildade ali então gera
Debaixo do seu pé, atenta, espera.

Em breve sobre a cabeça se lhe estende
A sombra daquele Mistério que ofende;
É aí que Verme e Mosca se sustentam
Do mistério que ambos acalentam.

E o fruto que gera é o do Engano
Do ao comer e tão malsano;
E o corvo o seu ninho ali o faz
No mais espesso da sombra que lhe apraz.

Todos os Deuses, quer da terra, quer do mar
P'la Natureza esta Árvore foram procurar;
Mas foi em vão esta procura insana,
Esta Árvore cresce só na Mente Humana.


"Uma Imagem Divina"

A crueldade tem Humano Coração,
E tem a Intolerância Humano Rosto;
O Terror a Divina Humana Forma,
O Secretismo Humano Traje posto.

O Humano Traje é Ferro forjado,
A Humana Forma, Força incendiada,
O Humano Rosto, Fornalha bem selada,
Humano Coração, Abismo seu esfaimado.


"Provérbios Do Inferno"

No tempo da semeadura, aprende; na colheita, ensina; no inverno, desfruta.
Conduz teu carro e teu arado por sobre os ossos dos mortos.
A estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria.
A prudência é uma solteirona rica e feia, cortejada pela Impotência.
Quem deseja, mas não age, gera a pestilência.
O verme partido perdoa ao arado.
Mergulha no rio quem gosta de água.
O tolo não vê a mesma árvore que o sábio.
Aquele, cujo rosto não se ilumina, jamais há de ser uma estrada.
A Eternidade anda apaixonada pelas produções do tempo.
A abelha atarefada não tem tempo para tristezas.
As horas de loucura são medidas pelo relógio; mas nenhum relógio mede as de sabedoria.
Os alimentos sadios não são apanhados com armadilhas ou redes.
Torna do número, do peso e da medida em ano de escassez.
Nenhum pássaro se eleva muito, se eleva com as próprias asas.
Um cadáver não vinga as injúrias.
O ato mais sublime é colocar outro diante de ti.
Se o louco persistisse em sua loucura, acabaria se tornando Sábio.
A loucura é o manto da velhacaria.
O manto do orgulho é a vergonha.
As Prisões se constroem com as pedras da Lei, os Bordéis, com os tijolos da Religião.
O orgulho do pavão é a glória de Deus.
A luxúria do bode é a glória de deus. A fúria do leão é a sabedoria de Deus. A nudez da mulher é a obre de Deus.
O excesso de tristeza ri; o excesso da alegria chora.
O rugir de leões, o uivar dos lobos, o furor do mar tempestuoso e da espada destruidora são fragmentos e eternidade grandes demais para os olhos humanos.
A raposa condena a armadilha, não a si própria.
Os júbilos fecundam. As tristezas geram.
Que o homem use a pele do leão; a mulher a lã da ovelha.
O pássaro, um ninho; a aranha, uma teia; o homem, a amizade.
O sorridente tolo egoísta e melancólico tolo carrancudo serão ambos julgados sábios para que sejam flagelos.
O que hoje se prova, outrora era apenas imaginado.
A ratazana, o camundongo, a raposa, o coelho olham as raízes; o leão, o tigre, o cavalo, o elefante olham os frutos.
A cisterna contém; a fonte derrama.
Um só pensamento preenche a imensidão.
Dizei sempre o que pensa, eo homem torpe te evitará.
Tudo o que se pode acreditar já é uma imagem de verdade. A águia nunca perde tanto o seu tempo como quando resolveu aprender com a gralha.
A raposa provê para si, mas Deus provê para o leão.
De manhã, pensa; ao meio-dia, age; no entardecer, come; de noite, dorme.
Quem permitiu que dele te aproveitasses, esse te conhece.
Assim como o arado vai atrás de palavras, assim Deus recompensa orações.
Os tigres da ira são mais sábios que os cavalos da instrução.
Da água estagnada espera veneno.
Nunca se sabe o que é suficiente até que se saiba o que é mais que suficiente.
Ouve a reprovação do tolo! É um elogio soberano!
Os olhos, de fogo; as narinas, de ar; a boca, de água; a barba, de terra.
O fraco na coragem é forte na esperteza.
A macieira jamais pergunta à faia como crescer; nem o leão, ao cavalo, como apanhar sua presa. Ao receber, o solo grato produz abindante colheita.
Se os outros não fossem tolos, nós teríamos que ser.
A essência do doce prazer jamais pode ser maculada.
Ao veres uma Águia, vês uma parcela da Genialidade. levante a cabeça!
Assim como a lagarta escolhe as mais belas folhas para deitar seus ovos, assim o sacerdote lança sua maldição sobre as alegrias mais belas.
Criar uma florzinha é o labor de séculos.
A maldição aperta. A bênção afrouxa.
O melhor vinho é o mais velho; a melhor água, a mais nova.
Orações não aram! louvores não conlhem! Júbilos não riem! Tristezas não choram!
A cabeça, o Sublime; o coração, o Sentimento; os genitais, a Beleza; as mãos e os pés a Proporção.
Como o ar para o pássaro ou o mar para o peixe, assim é o desprezo para o desprezível.
A gralha gostaria que tudo fosse preto; a coruja, que tudo fosse branco.
A Exuberância é a Beleza.
Se o leão fosse aconselhado pela raposa, seria ardiloso.
O Progresso constrói estradas retas; mas as estradas tortuosas, sem o Progresso, são estradas da Genialidade.
Melhor matar uma criança no berço do que acalentar desejos insatisfeitos.
Onde o homem não está a natureza é estéril.
A verdade nunca pode ser dita de modo a ser compreendida sem ser acreditada.
É suficiente! Ou Basta!